sábado, 19 de junho de 2010

**ARTIGO: EDUCAÇÃO INFANTIL E INFÂNCIA

EDUCAÇÃO INFANTIL E INFÂNCIA


Eliane Silveira Gonçalves

A partir do tema Educação infantil e Infância procurarei, além de colocar em palavras o meu sentimento de consternação diante do que já se viu e o que ainda se vê na educação infantil e naquilo que deveria ser a real infância, direito de todo cidadão-criança, abordar ainda o quanto a infância passou por diversas percepções diferenciadas chegando ao que hoje chamamos de direito adquirido às crianças de 0 a 6 anos segundo a Constituição Federal de 1988. Mencionarei também que quando falo em consternação, falo fazendo referencia ao ECA , que ao meu ver ajudou em muitas coisas, mas também atrapalhou, e muito, no entendimento do que vem a ser direitos e o que vem a ser deveres desses jovens (crianças) e adolescentes.

A Educação infantil é o momento de interação da criança com o mundo, com todos os que a cercam e com ela mesma. Com isso, o desenvolvimento da criança deve ser acompanhado desde o nascimento, lá no seio da família, pois é ali que vai fazer as primeiras relações de afetividade e de reconhecimento do mundo em que acaba de ser inserida.

Ao ingressar na escola a família ainda é a sua maior referencia, mas aos poucos o envolvimento com outras crianças e mesmo com os profissionais que encontrará lá, ira moldar uma nova criança-cidadão, que receberá a influencia daqueles com quem ira dividir aquele espaço. É nesse espaço, onde favorecerá a aprendizagem social com as regras sociais e com os padrões sociais.

A Educação infantil possui um papel fundamental na co-formação da personalidade da criança. Co-formação, pois esta será feita pela família e pelas interações sociais em que esta criança estiver inserida. É ali também, na escola, que a criança aprenderá a cooperação, a solidariedade, o companheirismo vivendo o coletivo com pessoas que não são de sua família, ou seja, pessoas com quem não teve afinidade desde o nascimento, mas é ali também onde vai formar o seu eu psíquico.

A Educação infantil é um direito adquirido para as crianças de 0 a 6 anos a partir da Constituição de 1988, mas é importante ressaltar que isso não tira o dever da família de educar esta criança para o mundo e para as interações sociais que ira fazer em sua caminhada pela vida. O que vemos hoje são crianças cada vez mais a mercê da instituição do que da família de direito o que esta transformando nossas crianças e adolescentes em pessoas difíceis de lidar, de educar, de conviver.

DIREITO À INFÂNCIA

Historicamente já vimos que o direito à infância já foi alterado pela sociedade de diversas formas sendo para benefício da própria sociedade seja para benefício da criança. Desde os tempos em que a criança era vista como um adulto em miniatura até os dias de hoje, onde ela começou a ser vista como um ser social, único e com suas próprias características e pensamentos, muitas coisas mudaram apesar de algumas terem mudado para pior, para a criança em questão.

A infância deveria ser o momento onde a criança passaria por todo tipo de descobrimentos sobre o mundo através das brincadeiras, do convívio com amigos, das relações com seus familiares incluindo seus avós, parte importante na aquisição de caráter e formação das relações de afeto favoráveis a um crescimento feliz e sem grandes danos ao seu psiquismo.

Infelizmente, a nossa sociedade mudou tanto que as famílias estão cada vez menos com seus filhos, fazendo com que estes se vejam obrigados a ser “educados” pela TV, o que é nocivo a formação de caráter em tão tenra idade, pois desde muito cedo as crianças se vêem sozinhas enquanto seus pais precisam trabalhar cada vez mais para poder oferecer as coisas materiais que a própria TV dita, impõe, que temos que ter para sermos felizes.

ONDE FICOU O LAÇO FAMILIAR?

Onde se perdeu a parte boa de ser criança? Poder brincar, correr, cair, chorar e chegar em casa e ser recebido por um abraço afetuoso com a certeza que ali teria aconchego e cuidado. Onde ficou a família que dava suporte para a criação de filhos sadios, fortes e responsáveis? Onde está o gosto dos pais em fazer parte da vida de seus filhos, cuidar de seus deveres escolares, saber quem são seus amigos, fazer passeios juntos ou simplesmente sentarem-se à mesa para uma refeição onde todos possam interagir, falar de seus sentimentos, seus sonhos, sem a intervenção da TV ligada, e cada um comendo com os olhos pregados no que dizem que devem ser, fazer e ter se quiserem crescer fortes e felizes?

Eu mesma já passei por uma situação constrangedora quando trabalhava em um CI, e alguns pais se reuniram para exigir que o CI ficasse aberto até às 11h da noite porque senão eles não teriam tempo para ir ao supermercado sem que seus filhos os atrapalhassem!!!!! Os pais perderam o elo de amor e afeto com os filhos achando que trabalhando o maior tempo possível para dar tudo o que os filhos pedem estão fazendo a coisa certa.

Sabemos que as leis foram necessárias para “educar” e sociedade que sem elas não conseguiriam sobreviver em harmonia a exemplo dos semáforos, só existem porque motoristas X motoristas e motoristas X pedestres não se entendem. Assim também o ECA foi criado para que as crianças tivessem direito a um direito que já nasce com ela, o de ser feliz, ter uma família, saúde, educação e infância.

DIREITO À EDUCAÇÃO

Este é outro problema que encontramos hoje, a necessidade de se ter um direito que deveria ser natural ser assegurado por uma Constituição. Segundo Wolff ( p. 65. 2008): É na década de oitenta, mais precisamente com a Constituição Federal de 1988, que se estabelece um caráter diferenciado para a compreensão da infância, impondo-lhe uma dimensão de cidadania. A educação da criança de 0 a 6 anos, seja em creches ou pré-escolas, está vinculada necessariamente ao atendimento do cidadão-criança; a criança passa a ser entendida como sujeito de direitos e em pleno desenvolvimento desde seu nascimento.

Mas que educação é esta que esta sendo oferecida as crianças de 0 a 6 anos? Será que ela esta realmente suprindo os direitos assegurados também em relação à infância? Ao brincar, ao descobrir o mundo de modo lúdico e pessoal, de fazer suas próprias descobertas e poder também socializar com seus pares aquilo que já sabe, já descobriu.

São inúmeras leis e estatutos que encontramos para assegurar direitos às crianças e adolescentes, como por exemplo: Constituição Federal de 1988, ECA, PNE , documento de Política Nacional de Educação infantil – MEC, LDB , entre outros. Mas nas escolas encontramos essa educação tão apregoada em tantos estatutos e leis? Nossas crianças estão realmente sendo educadas de acordo com o que preza o que é natural para a infância, brincar, descobrir, socializar, questionar? Segundo Wolff (p. 74. 2008):

Em função das particularidades do desenvolvimento da criança de zero a seis anos e do atual contexto social, uma nova concepção de educação para esta faixa etária esta sendo consolidada. O que impõe um redimensionamento sócio-político das instituições de Educação infantil (creche e pré-escola), sendo imprescindível uma perspectiva educacional-pedagógica adequada às especificidade da criança de 0 a 6 anos, diferenciando-se do modelo adotado pela escola de ensino fundamental.

É de suma importância que nossas instituições de ensino infantil se preocupem em trabalhar nas crianças os desenvolvimentos emocionais, físicos e intelectuais, mostrando a importância de se respeitar o meio ambiente em que vivemos e mostrar as desigualdades sociais e culturais para que ela possa crescer com uma visão humanitária e possa assim descobrir novos alicerces em relacionamentos éticos, político e afetivos.

DEVERES

Se temos direitos temos em contrapartida os deveres. Deveres estes que deveriam ser respeitados por todos desde o nascimento até nossa morte. Infelizmente não é isto que vemos em nossa sociedade carcomida de pensamentos antiéticos.

Com o ECA temos todos os direitos estabelecidos para as crianças de 0 a 12 anos e adolescentes dos 12 até aos 18 anos. Pena é que esta lei esteja sendo usada pelas próprias crianças e adolescentes para poder incorrer em atos ilícitos som ônus para eles, ou seja, muitas crianças afrontam seus pais e professores não acatando ordens nem tão pouco respeitando limites em prol de um direito adquirido que nem mesmo eles sabem de fato qual é.

A parte boa do ECA ficou em segunda mão e o que se vê são atitudes desregradas, crianças que não sabem mais brincar a não ser num mundo cada vez mais restrito onde eles se relacionam apenas com máquinas, jogos nos computadores cada vez mais nocivos e agressivos.

Muitos pais chegam às escolas se dizendo incapacitados para educar seus filhos, deixando nas mãos das instituições de ensino o que deveria ser de dever da família corrigir. Quando falei em onde anda o laço familiar que educava, que preparava para a vida, que dava limites, que dava suporte para que a criança crescesse e fosse um cidadão honesto e correto, estava justamente querendo chegar nesse ponto. Quando a família não da mais conta de seus filhos a infância que tantos querem assegurar vai sendo absorvida por vidas desregradas, aluno sem vontade de estudar, de jovens infelizes que se atiram às drogas por não saber onde se perderam no caminho de suas vidas.

Enfim a infância de nossas crianças esta passando por uma nova etapa de mudanças como tantas que já tiveram desde o começo da humanidade e também a educação infantil esta tentando a todo custo recuperar o gosto pela vida, pela boa educação, pelo gosto da leitura, pelo aprender a aprender brincando, coisa que deveria ser natural em cada criança como já foi um dia.

CONCLUSÃO

Toda essa discussão sobre Educação infantil e infância vai passar por muitas mudanças ainda e muito mais discussão deverá se ter para chegarmos a um consenso de que uma vez que os pais, as famílias não dão mais conta de seus filhos e que com isso a infância de direito dessas crianças esta se tornando cada vez mais raro por conta de que elas não brincam mais, não criam mais, não sonham mais, não acreditam em contos de fada, tudo é muito desvendado, permissivo, erotizado fazendo com que a infância se torne cada vez menor se restringindo apenas a criança de berço, que não anda, que ainda não fala, pois cada vez mais estamos voltando ao tempo em que a sociedade via a criança como um adulto em miniatura, agora é a própria criança que quer ser este adulto em miniatura.

Cada vez mais cedo nossas meninas param de brincar de bonecas, nem mesmo nas creches elas querem participar desse tipo de brincadeira, querem ser a Xuxa, a Angélica, a Super herói do momento, querem namorar, se maquiar e usar roupas que mostrem o corpo para chamar a atenção dos meninos, enquanto que os meninos estão cada vez mais num mundo enclausurado de videogames, lan haus, orkut para ter acesso a toda sorte de conteúdo que deveriam passar pela orientação dos pais, mas infelizmente não o são.

As instituições de ensino infantil tentando a todo modo retroceder essa realidade tentando encontrar meios para chamar a atenção dessas crianças para o lúdico, para o belo, para o misterioso para poder assim dar a elas o que é delas de direito natural, uma infância feliz e capaz de fazer adultos honestos, criativos, participativos, honrados e responsáveis.


REFERÊNCIA

WOLFF, Celi Terezinha. Organização do trabalho pedagógico na educação infantil. Indaial: ASSELVI, 2008.

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