**ARTIGO: A IMPORTÂNCIA DO ATO DE CANTAR PARA O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA

A IMPORTÂNCIA DO ATO DE CANTAR PARA O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA


Eliane Silveira Gonçalves

Este artigo tem por objetivo apresentar a importância do ato de cantar para o desenvolvimento integral da criança como elemento contribuinte para o desenvolvimento da inteligência e a integração do ser. Explica como a musica pode contribuir com a aprendizagem, traz algumas sugestões de atividades e analisa o papel da música na educação. Remete também ‘a Inteligência Musical, apontada por Howard Gardner, como uma das múltiplas inteligências e à capacidade que a música tem de influenciar o homem física e mentalmente, podendo contribuir para a harmonia pessoal, facilitando a integração e a inclusão social.

A importância do ato de cantar perpassa pela música e a tão falada musicalização como elementos contribuintes para o desenvolvimento da inteligência integral de cada ser. Explica como o ato de cantar pode contribuir com a aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento cognitivo, lingüístico, psicomotor e sócio-afetivo da criança. Apresenta algumas sugestões de atividades, baseadas na experiência com a prática da musicalização com crianças e fundamentadas em pesquisa bibliográfica.

Veremos ainda o papel da música na educação, não apenas como experiência estética, mas também como facilitadora do processo de aprendizagem, como instrumento para tornar a escola um lugar mais alegre e receptivo, e também ampliando o conhecimento musical do aluno, afinal a música é um bem cultural e seu conhecimento não deve ser privilégio de poucos. Sugere que a escola deve oportunizar a convivência com os diferentes gêneros, apresentando novos estilos, proporcionando uma análise reflexiva do que lhe é apresentado, permitindo que o aluno se torne mais crítico.

O ato de cantar, a musicalização, na escola também aborda a questão da Inteligência Musical, apresentada por Howard Gardner (1995) na teoria das inteligências múltiplas, e apresenta alguns motivos pelos quais ela deva ser melhor considerada no currículo escolar. Por fim, indica a música como um elemento importante para estabelecer o desenvolvimento integral da criança.

A experiência com música antes do aprendizado do código convencional é muito importante. Num trabalho pedagógico, entende-se a música como um processo contínuo de construção que envolve perceber, sentir, experimentar, imitar, criar e refletir.

Ao cantar com as crianças podemos desenvolver um grande vínculo afetivo. No coletivo quando cantamos com as crianças estas podem aprender a ouvir a si mesmas, aos outros e ainda desenvolver a personalidade ao dar atenção ao outro, a ter cooperação com os demais e desenvolver o espírito de coletividade. Bréscia (apud por PIRES, 2007, p. 42) nos diz que: (...) ao trabalhar com os sons, a criança aguça sua audição, ao acompanhar gestos ou dançar ela esta trabalhando a coordenação motora e a atenção, ao cantar ou imitar sons ela está estabelecendo relações com o ambiente em que vive. O aprendizado de música, além de favorecer o desenvolvimento afetivo da criança, amplia a atividade cerebral, melhora o desempenho escolar dos alunos e contribui para integrar socialmente o indivíduo.

A criança deve ser incentivada a improvisar e inventar canções, como as paródias, por exemplo. No Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil ressalta-se a importância dos brinquedos musicais. A hora da história é um importante momento para o processo de educação musical, pois podemos interpretá-la usando o recurso da voz. Podemos também ilustrar sonoramente a narrativa usando objetos sonoros, fazendo assim a sonoplastia do que esta sendo narrado.

O uso da música na escola como um recurso riquíssimo de aprendizagem vai contribuir para tornar o ambiente escolar mais alegre e favorável à aprendizagem. A música na escola pode ir além do desejo dos professores em ensinar brincando ou cantando. A música pode e deve ser usada também em momentos de tensão, após atividades físicas e por todas as disciplinas. Quando um educador, de qualquer disciplina, usa desse recurso, com certeza estará propiciando a seus alunos um aprendizado mais eficaz e alegre dos conteúdos a serem estudados.

É importante também que o aluno aprenda na escola o conhecimento musical. Através de diversos gêneros e estilos o aluno irá refletir sobre a diversidade musical que temos em nosso país e assim se tornar mais crítico ao educar-se musicalmente.

Deve-se, contudo, ter em mente que as atividades musicais realizadas na escola não têm por finalidade formar músicos. Sua finalidade principal é através da música abrir canais sensoriais que facilite a expressão das emoções contribuindo para a formação integral do aluno.

A música como benefício para a saúde já é conhecida há muitos séculos, mas ela vai mais além. Muitas empresas já reconhecem o valor do uso da música em seus ambientes de trabalho, uma vez que, esta propicia a seus funcionários uma integração e uma cooperação que vai além de apenas proporcionar relaxamento e descontração. Ela proporciona a integração social dos seres que ali se encontram todos os dias e por muitas horas, mais até do que as horas passadas em família.

Se num grupo de empregados houver o interesse de formar um coral, por exemplo, estes indivíduos com certeza se sentirão muito mais a vontade com seus pares, pois estarão fazendo com que o relacionamento empregado/empresa seja mais saudável e prazeroso.

Assim também na escola a música contribui e muito para a integração social de todas as crianças, mas em especial, para as crianças com alguma deficiência mental ou motor. As atividades de musicalização, por exemplo, servem como estímulo a realização e o controle de movimentos específicos, contribuem na organização do pensamento, e as atividades em grupo favorecem a cooperação e a comunicação. Além disso, a criança fica envolvida numa atividade cujo objetivo é ela mesma, onde o importante é o fazer, é o participar, não existindo cobrança de rendimento, sua forma de expressão é respeitada, sua ação é valorizada, e através do sentimento de realização ela desenvolve a auto-estima e se sente parte daquele grupo social.

Incluir a música no ambiente escolar irá trazer um benefício tanto para os alunos quanto para seus professores, uma vez que, através da música há comprovadamente benefícios para a saúde mental e física . A música ajuda a equilibrar as energias, desenvolve a criatividade, a memória, a concentração, autodisciplina, socialização, além de contribuir para a higiene mental, reduzindo a ansiedade e promovendo vínculos importantes para o desenvolvimento afetivo e social de todos os seres envolvidos em um determinado local, podendo ser na família, na escola, nos hospitais, nas empresas.

Quando falamos em escola, logo pensamos nas diferentes habilidades que cada criança deve descobrir ao ter que passar horas sendo bombardeado de informações e tendo que se mostrar apto em todas as disciplinas para poder perpassar por todas as séries do currículo escolar. Quando a escola privilegia apenas as capacidades lógico-matemática e lingüística não esta dando oportunidade a seus alunos de mostrar outras habilidades.

Há estudos que mostram teorias de inteligências múltiplas que nada mais é que um conjunto de habilidades que cada indivíduo possui em grau e combinações diferenciadas. Segundo Gardner (1995, p. 21): “Uma inteligência implica na capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos que são importantes num determinado ambiente ou comunidade cultural”.

A princípio as inteligências múltiplas são sete: inteligência musical, corporal sinestésica, lógico-matemática, lingüística, espacial, interpessoal e intrapessoal. A inteligência musical se caracteriza pela habilidade de reconhecer sons, ritmos, gosto em cantar ou tocar algum instrumento.

As inteligências são partes da herança genética humana, todas se manifestam em algum grau em todas as crianças, independente da educação ou apoio cultural. Assim, todo ser humano possui certas capacidades essenciais em cada uma das inteligências, mas, mesmo que um indivíduo possua grande potencial biológico para determinada habilidade, ele precisa de oportunidades para explorar e desenvolvê-la. Segundo (GARDNER, 1995, p, 47) “Em resumo, a cultura circundante desempenha um papel predominante na determinação do grau em que o potencial intelectual de um indivíduo é realizado”. Sendo assim, a escola deve respeitar as habilidades de cada um, e também propiciar o contato com atividades que trabalhem as outras inteligências, mesmo porque, segundo o autor, todas as atividades que realizamos utilizam mais do que uma inteligência.

A inteligência musical deve ser valorizada na escola não apenas para ser mais um conteúdo do currículo escolar e sim para poder dar oportunidade de novas aprendizagens a partir da ludicidade e da musicalização.

Quando o professor sabe exatamente aquilo que ele quer desenvolver em seus alunos a partir da música ele deve ter em mente os recursos que poderão ser utilizados para juntamente com a música chegar a seus objetivos de aprendizagem. O professor deve conhecer diversos tipos de jogos musicais onde poderá usar a percepção rítmica, jogos para o reconhecimento do timbre, da altura do som, as tão alegres cantigas de roda, usar músicas do nosso vasto repertório como da MPB, por exemplo, selecionando músicas que falem ao coração das crianças, músicas que tragam alguma mensagem importante para o assunto a ser trabalhado. Campbell; Campbell; Dickinson (2000, p.147) ao comentarem sobre a inteligência musical, resumem os motivos pelos quais ela deve ser valorizada na escola, sic:

- Conhecer música é importante.

- A música transmite nossa herança cultural. É tão importante conhecer Beethoven e Louis Armstrong quanto conhecer Newton e Einstein.

- A música é uma aptidão inerente a todas as pessoas e merece ser desenvolvida.

- A música é criativa e auto-expressiva, permitindo a expressão de nossos pensamentos e sentimentos mais nobres.

- A música ensina os alunos sobre seus relacionamentos com os outros, tanto em sua própria cultura quanto em culturas estrangeiras.

- A música oferece aos alunos rotas de sucesso que eles podem não encontrar em parte alguma do currículo.

- A música melhora a aprendizagem de todas as matérias.

- A música ajuda os alunos a aprenderem que nem tudo na vida é quantificável.

- A música exalta o espírito humano.

O principal da inteligência musical valorizada na escola é mostrar aos seus alunos o quanto é possível aprender com a música e o quanto pode ser prazeroso aprender dessa forma.

CONCLUSÃO

Fica evidente que as diversas áreas do conhecimento podem ser estimuladas com a prática do ato de cantar na educação infantil. De acordo com esta perspectiva, a música é concebida como um universo que conjuga expressão de sentimentos, idéias, valores culturais e facilita a comunicação do indivíduo consigo mesmo e com o meio em que vive. Ao atender diferentes aspectos do desenvolvimento humano: físico, mental, social, emocional e espiritual, a música pode ser considerada um agente facilitador do processo educacional. Nesse sentido faz-se necessária a sensibilização dos educadores para despertar a conscientização quanto às possibilidades da música para favorecer o bem-estar e o crescimento das potencialidades dos alunos, pois ela fala diretamente ao corpo, à mente e às emoções.

A presença da música na educação auxilia a percepção, estimula a memória e as inteligências múltiplas, relacionando-se ainda com habilidades lingüísticas e lógico-matemáticas ao desenvolver procedimentos que ajudam o educando a se reconhecer e a se orientar melhor no mundo.

As atividades de musicalização também favorecem a inclusão de crianças com deficiência mental ou motor. Pelo seu caráter lúdico e de livre expressão, não apresentam pressões nem cobranças de resultados, são uma forma de aliviar e relaxar a criança, auxiliando na desinibição, contribuindo para o envolvimento social, despertando noções de respeito e consideração pelo outro, e abrindo espaço para outras aprendizagens.

REFERÊNCIAS

CAMPBELL, Linda; CAMPBELL, Bruce; DICKINSON, Dee . Ensino e Aprendizagem por meio das Inteligências Múltiplas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

PIRES, Gisele Brandelero Camargo. Lúdico e Musicalização na Educação Infantil. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Indaial: Ed. Grupo UNIASSELVI, 2008.